EXPERIÊNCIA QUANDO CRIANÇA AO INGRESSAR NA EDUCAÇÃO
Escrever esse memorial é
para mim um tanto quanto difícil, uma vez que, não me recordo de muita coisa
envolvendo a minha infância; os resultados aqui expressos são frutos de uma
pesquisa, na qual indaguei familiares e amigos, que me ajudaram narrando pequenas
histórias do meu passado.
Eu não gosto muito de falar
do meu passado, eu sei que minha mãe passou muitas coisas, e até hoje isso está
dentro de mim; eu admito que sou uma pessoa muito sensível; o choro é algo que
me marca até hoje; é como se a criança do passado ainda estivesse internalizada
em mim, isso me incomoda muito, porque sou conhecida como a menina que chora
por tudo; já estou procurando ajuda com uma profissional formada em psicologia,
mas creio que essa angustia em minha alma me impede de narrar minha infância
com todo o afinco que poderia empenhar; mesmo assim, deixo minhas marcas do
passado, para expressar, nos meus limites, minha infância.
Eu era vista como uma menina
chorona por familiares e os amigos. Até hoje, depois de muitos anos, as pessoas
comentam “você era chorona viu! ’’ E, às vezes, perguntam para minha mãe se
ainda sou. Até meus professores daquela época quando me veem, comentam sobre o
meu sentimentalismo.
Essa palavra infância não me
encanta a alma com o mesmo afinco que nas demais pessoas a minha volta, uma vez
que, não me recordo de nada; era apenas uma menina que só confiava nos pais,
sempre desconfiada de tudo, que não saia de casa e, até hoje sou assim; uma
menina difícil de fazer amizades, de poucos amigos; uma menina carente, como
minha mãe dizia, eu ficava as vinte e quatro horas do dia grudada nela, não ia
para o colo de ninguém, até hoje eu tenho dificuldade para sair de casa, para
viajar.
A noção de infância nasceu
no contexto histórico e social da modernidade, com a diminuição dos índices de
mortalidade infantil, graças ao progresso da ciência e as transformações
econômicas e sociais.
Para MACIEL; BAPTISTA; MONTEIRO, (2009) A infância deixou de ser compreendida como uma “pré” etapa da fase adulta e passou a ser identificada como um estado diferenciado. Assim, ao mesmo tempo em que se reconhece que a definição de infância é tributária do contexto histórico, social e cultural no qual se desenvolve, admite-se a especificidade que a constitui como uma das fases da vida humana.
Para MACIEL; BAPTISTA; MONTEIRO, (2009) A infância deixou de ser compreendida como uma “pré” etapa da fase adulta e passou a ser identificada como um estado diferenciado. Assim, ao mesmo tempo em que se reconhece que a definição de infância é tributária do contexto histórico, social e cultural no qual se desenvolve, admite-se a especificidade que a constitui como uma das fases da vida humana.
No decorrer da história os
conceitos de criança e infância vêm sendo discutidos e apresentam diferentes
significados. A criança deixa de ser considerada um ser “adultizado” e passa a
ser visto como um indivíduo de direitos e singularidades. Pinto e Sarmento
(1997, p.15), destacam que novas investigações e estudos intensificados têm
ressaltado o estado da criança como ser de direitos desde a barriga da mãe. A
concepção da infância está sempre em construção, logo que perpassa por diferentes
contextos dependendo da cultura, região, onde se encontra a criança na
sociedade. Assim, afirma Andrade e Barnabé (2010) que O
termo infância apresenta um caráter genérico, cujo significado resulta das
transformações sociais, o que demonstra que a vivência da infância modificasse
conforme os paradigmas do contexto histórico e outras variantes sociais com
raça, etnia e condição social (ANDRADE; BARNABÉ, 2010, p.55).
Para Sarmento, (2005, p.
371), é importante se fazer uma distinção semântica entre criança e infância,
conceitos que muitas vezes são confundidos como se tivessem o mesmo significado
de acordo com o senso comum, por
isso a sociologia da infância costuma fazer, contra a orientação aglutinante do
senso comum, uma distinção semântica e conceptual entre infância, para
significar a categoria social do tipo geracional, e criança referente ao
sujeito concreto que integra essa categoria geracional e que, na sua
existência, para além da pertença a um grupo etário próprio, é sempre um ator
social, que pertence a uma classe social, a um gênero, etc. (grifos do autor).
A minha infância foi passada mais em casa com meus pais; na maioria das vezes eu brincava em casa sozinha; eu tenho uma irmã mais velha, mas não convivemos muito juntas, quando minha mãe estava na mesa de cirurgia para dá à luz a minha irmã mais velha teve uma complicação no parto (erro médico), então ela precisou passar por oito cirurgias e infelizmente nenhuma feita aqui em Jequié, todas na capital. Então ela perdeu o período da infância de minha irmã, pois ela ficou uma boa parte em hospitais, meses indo e retornando. Meu avô, meu pai e algumas tias é que cuidavam da minha irmã, pois a minha avó materna acompanhava-a em todos os procedimentos; ela só teve o prazer de ficar com minha irmã quando ela já estava com 3 aninhos, quando ela iniciou na educação infantil. Ela acompanhou minha irmã no período inicial da escola.
A minha infância foi passada mais em casa com meus pais; na maioria das vezes eu brincava em casa sozinha; eu tenho uma irmã mais velha, mas não convivemos muito juntas, quando minha mãe estava na mesa de cirurgia para dá à luz a minha irmã mais velha teve uma complicação no parto (erro médico), então ela precisou passar por oito cirurgias e infelizmente nenhuma feita aqui em Jequié, todas na capital. Então ela perdeu o período da infância de minha irmã, pois ela ficou uma boa parte em hospitais, meses indo e retornando. Meu avô, meu pai e algumas tias é que cuidavam da minha irmã, pois a minha avó materna acompanhava-a em todos os procedimentos; ela só teve o prazer de ficar com minha irmã quando ela já estava com 3 aninhos, quando ela iniciou na educação infantil. Ela acompanhou minha irmã no período inicial da escola.
Pelo fato de minha mãe
passar por tantas cirurgias, ela não poderia engravidar de novo, e de repete
ela descobriu que estava grávida de mim. Minha mãe teve muitos medos; ela me
contou que chorava sempre, teve muitas inseguranças e não sabia como seria. Ela
estava carregando traumas de oitos cirurgias que deram erradas, ela estava
usando bolsa de colostomia, minha mãe passou muita coisa na primeira gravidez e
aí veio a segunda e o medo de tudo que ela passou na primeira, poderia passar
na segunda. Foram muitas coisas, mas graças a Deus eu vim ao mundo de parto
Cesário; me deram o nome de Ayalla, que significa valente guerreira.
Até hoje pergunto a
Deus qual o propósito que eu vim para o mundo, porque foram tantas coisas que
meus pais passaram, mais se estou aqui hoje é porque Deus permitiu. Vim de uma
família católica, criada na igreja católica e hoje eu e minha família somos
cristãos.
Falando um pouco de meu pai,
ele foi um guerreiro o tempo todo, sempre esteve ao lado da minha mãe, nunca
abandonou, sempre lhe dando forças. Eu amo meus pais, eles são guerreiros,
escrevo esse memorial colocando todos os meus prantos nessas poucas letras, mas
deixando escritas nesses símbolos abstratos, meus mais profundos sentimentos. É
deveras difícil falar disso, dessas coisas do passado.
Quando comecei a ir
para a escola, só queria brincar e chorar. As professoras diziam que era
preguiçosa para estudar e que chorava o tempo todo querendo ir para casa ficar
com minha mãe. A professora afirmou que eu não gostava de ler, só queria
brincar e que tinha muita dificuldade para escrever; segundo ela minhas letras
eram bastante complicadas e minha mãe mandava ela sempre “pegar no meu pé”.
Meu ingresso na escola foi
algo um tanto quanto prematuro para a perspectiva de algumas pessoas; aos dois
anos e nove meses meus pais me colocaram na escola. Eu não posso afirmar o
sentimento que eu tive em relação a isso, era muito nova, e não me lembro de
muita coisa. Com o decorrer desse processo de escolarização tive contato com o
mundo da leitura; livros, revistas e outros artefatos da literatura cotidiana;
isso foi para minha família uma experiência muito gratificante.
BELLONI (2007) Ao longo do processo de socialização do qual elas são atores principais e sujeitos ativos, as crianças são também objeto da ação de várias instituições especializadas, entre as quais as mais importantes são a família, a escola, as igrejas e as mídias.
BELLONI (2007) Ao longo do processo de socialização do qual elas são atores principais e sujeitos ativos, as crianças são também objeto da ação de várias instituições especializadas, entre as quais as mais importantes são a família, a escola, as igrejas e as mídias.
A noção de socialização é
permeada por uma série de discussões não homogêneas. Sendo este um aspecto
importante da Sociologia da Infância, torna-se relevante destacar quais
pressupostos embasam a noção aqui adotada. O artigo de Eric Plaisance (2004)
traz considerações significativas a esse respeito.
Primeiramente é preciso
entender que socialização não é o mesmo que sociabilidade. Essa concepção tende
a entender que socializar é uma ação individual na qual o sujeito se abre para
novas experiências, vivências e relacionamentos com outros indivíduos. Ao
contrário, a socialização na qual a Sociologia da Infância e a Sociologia da
Pequena Infância (mais precisamente abordada por PLAISANCE, 2004) se pautam,
designa os processos gerais que abrangem toda a vida humana, que constituem e
produzem os seres humanos enquanto seres sociais (PLAISANCE, 2004). Trata-se,
grosso modo, da atuação do meio, da cultura, do contexto histórico no
indivíduo, interpelados pelas maneiras singulares de vivenciar tais ações.
O modelo vertical de
socialização proposto pela sociologia clássica de Durkheim é criticado à medida
que compreende o sujeito como um receptor passivo do meio; a socialização,
neste sentido, é uma interiorização de normas e de valores que ocorrem por meio
de uma coerção social. Ao contrário dessa perspectiva, a Sociologia da Infância
e da Pequena Infância compreendem a socialização como uma ação interativa do
meio e do indivíduo. Nas palavras de Dubet (2002 apud PLAISANCE, 2004, p. 7),
trata-se de “[...] um trabalho do ator socializado que experimenta o mundo
social”
Posso dizer que o papel da
criança na sociedade é trazer alegria, aos pais, amigos e familiares. É nos
fazer lembrar novamente da nossa inocência no período infantil. As crianças de
hoje não são parecidas com a criança que eu fui, elas são muito diferentes; a
semelhança está na dependência e apego aos pais, já diferença está
principalmente uso das tecnologias. Pois, antigamente as crianças gostavam de
brincadeiras com carros e bonecas. Mas, hoje em dia quase todos os brinquedos
envolvem jogos digitais.
O momento de o filho
aprender a ler e escrever é algo muito esperado pelos pais, um ato que quando
iniciado causa admiração, alegria e entusiasmo aos nossos responsáveis e as
pessoas que nos rodeiam. Para mim ler e escrever é um momento desejado por
muitos, um ato que quando iniciado causa admiração e prestígio aos nossos
responsáveis e as pessoas que nos rodeiam.
CONCLUSÃO
Desta forma vejo que esse
meu período foi marcado por altos e baixos; em alguns momentos me admirei com
as habilidades que fui adquirindo, e me frustrando com os problemas que
enfrentava nesse percurso.
Quando fui informada pela
professora que teríamos que elaborar um memorial, pensei que não iria
conseguir, pelo fato de ter momentos difíceis nesse período; realizar este
trabalho não foi nada fácil.
Depois de várias pesquisas,
busca de fotos e arquivos guardados, dúvidas e questionamentos, logo consegui
montar o memorial, espero ter efetuado minha tarefa de forma objetiva e clara.
REFERÊNCIAS
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das
letras, 1983.
A
Sociologia da Infância: esboço de um mapa. MORUZZI, Andrea Braga.
Histórias da educação infantil brasileira -
Moysés Kuhlmann Jr
BELLONI, M. L. Infância, mídias e educação: revisitando o conceito de socialização.
Caderno Perspectiva, Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 41-56, jan. /jun. 2007.
PLAISANCE, E. Por uma sociologia da pequena infância. Educação e Sociedade,
Campinas, v. 25, n. 86, p. 221-241, abr. 2004.
DUBET, F. Le déclin de l’institution. Paris:
Seuil, 2002.
MACIEL, Francisca Izabel Pereira; BAPTISTA,
Mônica Correia; MONTEIRO, Sara Mourão. A
criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos:
orientações para o trabalho com a linguagem escrita em turmas de crianças de
seis anos de idade. Belo Horizonte: UFMG/FaE/CEALE, 2009.
PINTO, M. A
infância como construção social. In: SARMENTO, M. J. As crianças: contextos e identidades. Braga: centro de estudos da
criança da universidade do Minho, 1997. PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel
Jacinto. As crianças contextos e identidades. Universidade do Minho, centro de
estudos da criança, 1997.
ANDRADE, Lucimary Bernabé Pedrosa de. Educação infantil: discurso, legislação e
práticas institucionais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
SARMENTO, Manuel Jacinto. Gerações e Alteridade: Interrogações a partir da Sociologia da Infância.
In: Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361- 378, maio/ago. 2005.
Você traz a sua narrativa de infância e articula com a base teórica estudada. O texto ficaria melhor se você fizesse as citações indiretas.
ResponderExcluirParabéns Ayalla, Muito bem colocada a sua memória de infância! Ressalto que achei muito interessante quando diz que os pais esperam ansiosamente pela leitura e escrita dos filhos, o que é verdade e de certa forma coloca um pressão sobre as crianças e os professores ! Ótimo relato.
ResponderExcluirExcelente, Ayalla! Seu memorial está muito bem escrito e bem fundamentado. Apesar de dizer que teve dificuldades para escrever, nota-se que você foi brilhante em tudo o que escreveu, parabéns.
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